domingo, 20 de janeiro de 2008

Opinião


Jornalismo Esportivo? Não, Especulativo



Nada como um dia após o outro, diz o ditado popular. Depois da tão comentada primeira rodada do campeonato paulista, período em que a mídia esportiva se mostra carente de material jornalístico e acaba se lambuzando no mundo vil da especulação, chega a segunda rodada e os principais times da capital paulista mostram realmente a que vieram.

Não seria cedo demais?

Não. Tomo como base para meus apontamentos o fato de, sim, assisti a todos os jogos nas duas rodadas que ocorreram até agora e não vi aquilo que anunciavam as manchetes que antecederam a grande estréia. Diferentemente de muitos, os sovinas e incautos de plantão, não me iludi com a rodada inaugural. Deveria ser do conhecimento de todos, pelo menos para os amantes do futebol, que a primeira rodada é uma mentira no que diz respeito ao desenvolvimento de um ponto de vista sobre o futuro de determinado clube dentro do campeonato.

Se levarmos em consideração o que foi especulado após os primeiros jogos, teríamos algo que poderia desencadear uma revolução no futebol mundial: surgiria na história o primeiro campeonato de futebol com quatro campeões. Porque Palmeiras e Corinthians passaram por “grande reformulação”, eram equipes em “ascensão”. Grande espanto o meu, a pelota nem havia rolado ainda. Como esses caras conseguem chegar a tal conclusão? Logo estavam equiparados a Santos e São Paulo; o primeiro, por ser o último campeão, o segundo porque, bem, é considerada a melhor equipe do país devido a conquista do Brasileiro de 2007.

Para azar dos jornalistas-gurus, quis o destino que a dupla San-São mudasse o que fora narrado e descrito nas manchetes dos principais veículos do estado. O Peixe foi atropelado pela Lusa, no Morumbi, partida que marcou a volta da equipe do Canindé à primeira divisão da Campeonato Paulista. O Santos não só foi batido como demonstrou a todos um esquadrão frágil na defesa, acéfalo no meio-campo e tímido no ataque. Seria um favorito a menos no páreo?

O São Paulo, por sua vez, não perdeu a partida diante da sensação do campeonato de 2006, o Guaratinguetá, mas deixou claro que ainda sofre com a ressaca do título nacional do ano passado e precisa melhorar muito para recuperar o padrão de jogo que lhe garantiu o penta. Sem contar que a fórmula vencedora usada pelo Tricolor é a ideal para a conquista de títulos - os que são disputados por pontos corridos, diga-se. Dois favoritos a menos?

Vale ressaltar, ainda, a gana de muitos jornalistas em rotular jogadores, técnicos e partidas. A bola da vez foi o bordão “São Paulo Bad Boy”, termo cunhado pelo principal jornal esportivo da capital pelo fato de a equipe do Morumbi ter contratado os jogadores-problema Adriano, Fabio Santos e, por fim, Carlos Alberto. O primeiro, estrela maior, vem trabalhando de maneira exemplar sob a rédea curta de Muricy Ramalho. O que houve, senhores repórteres da bola de cristal?

A imprensa erra naquilo que faz de pior, que é o expediente dispensável de se antecipar à realidade e tentar adivinhar o desenrolar dos fatos, ou melhor, resultado de jogos. Muitos irão me questionar dizendo que começo de campeonatos é assim mesmo, falta material fresco e que os veículos usam e abusam de matérias analíticas para não fazer com que o diagramador quebre a cabeça pensando em como irá preencher os espaços vazios das páginas.

No entanto, coisas desse tipo são ingredientes perfeitos para iludir jogadores e a cartolada, principalmente quando são medíocres e não merecem estar representando equipes grandes. Quem perde com isso é o torcedor que, além de sofrer com um possível mal desempenho de sua equipe, é enganado com a realidade distorcida presente nos noticiários. Se esses ares místicos e reveladores continuarem pairando sobre as redações, seria no mínimo prudente a FPF encomendar quatro troféus ao final do campeonato, por que todos serão campeões.

Literatura e Futebol

A vida imita a arte. Passadas duas rodadas do Campeonato Paulista, podemos comparar os quatro principais times da capital com alguns dos mais célebres livros que já pintaram pela literatura nacional e gringa. Querem ver?

O Santos seria Dom Casmurro, de Machado de Assis, com o Luxa traindo Marcelo Teixeira e deixando a torcida pé da vida com o adultério.

O Palmeiras seria a Revolução dos Bichos, de George Orwell. Graças a empresa Traffic, o Porco está sendo sovado e passando por processo de engorda rumo aos títulos. Os torcedores esperam que o suíno não entrar na fila do abate.

O Corinthians seria A Volta ao Mundo em 80 dias, de Julio Verne. O planejamento alvi-negro para o biênio 2006/2007 envolve a conquista de todos os títulos que o Timão irá disputar. E ainda reforça a empreitada como “obrigação” por parte do clube. Os torcedores já comemoram e pagam as parcelas do vôo para o Japão, caso a equipe conquiste a Copa do Brasil e a Libertadores.

Fechando a série, o São Paulo seria Memórias de Um Sargento de Milícias, de Manuel Antonio de Almeida. A cada rodada que passa, o Sargento Muricy se mostra cada vez mais impaciente e carrancudo a cada pergunta feita sobre o desempenho de Adriano, Rogério e cia nesse fraco e nervoso começo de campeonato apresentado por sua equipe. “Futebol tem dessas coisas”, resmunga.

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